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segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Este corpo que grita


O meu corpo aprendeu a fazer uma série de coisas sozinho, sem o meu aval. Uma dessas coisas nada maravilhosas é gritar. Sim, o meu corpo aprendeu a gritar. Há dias em que não se cala um segundo que seja. Cada célula grita, num ritmo descompassado e frenético. É uma sucessão de gritos estridentes, em tons disformes. São gritos de dor, de uma dor que não consegue mais estar calada. São gritos de cansaço, gritos que ordenam a que eu me atire para o meio de chão e, também eu, comece a gritar. Há dias assim, em que a dor e o cansaço extremo fazem o meu corpo inteiro gritar. Gritar de desespero. Gritar de revolta. Gritar, tão somente, de cansaço. Há dias assim, em que o simples respirar dói e cansa. E o corpo grita e não se cala e quase me ensurdece e me leva à loucura. Há muito tempo que este meu corpo se tornou assim, desobediente, fazendo apenas aquilo que bem lhe apetece ou, neste caso, não fazendo aquilo que me apetece a mim. Por vezes, sinto que este meu corpo, que grita, deixou de ser meu. Entregou-se à dor, ao desespero, ao cansaço sem tréguas. Acho mesmo que o meu corpo deixou de ser meu. Descontrolou-se por esses caminhos sinuosos. Virou-me as costas. Zangou-se comigo. E a única maneira de me dizer tudo isso é gritando. E eu já não suporto mais ouvir estes gritos. Só queria dar-lhe sossego. Acalmar-lhe a dor. Devolver-lhe a força e a energia de outrora. Será que um dia vou conseguir? Será que, algum dia, o meu corpo irá fazer as pazes comigo e deixar de gritar e voltar a ser o que era? Tenho fé que, um dia, isso seja possível. Até lá, que Deus me ajude, que Deus nos ajude.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Esta dor que nunca acaba


Fibromialgia é sinónimo de dor. É uma dor diferente de todas as dores. Já senti muitas dores. Quando fracturei um pé ainda criança (mais do que uma vez). Quando abri a cabeça. Quando tive uma cólica renal. Muitas dores já senti. Mas esta dor é diferente. É uma dor que dói mais. É uma dor que não se cansa de doer, deixando-nos, a nós, completamente cansados. É uma dor que dá vontade de chorar. Sim, é esta a melhor definição que encontrei para descrever esta dor: uma dor que dá vontade de chorar. Uma dor que não acaba nunca. Pode deixar-se enganar pela força dos comprimidos que engolimos, mas é sol de pouca dura. Logo, logo ela volta, ainda mais forte, ainda mais desumana. Esta dor que não acaba tira-me o sono e o discernimento, quase me leva à loucura. Pensar que terei de viver com ela o resto dos meus dias faz-me sentir calafrios e revolta, faz-me querer até desistir. Nunca tolerei muito bem a dor. Tenho um limiar de dor muito baixo. E agora que sinto esta dor descomunal é como se todo o meu corpo entrasse em colapso e se recusasse a reagir. Só quem padece do mesmo pode entender.

Como se já não bastasse esta dor, esta dor que dá vontade de chorar, ainda sou (somos) obrigada a suportar uma outra dor, a dor da alma, a dor da incompreensão. Poucos são aqueles que sabem, de facto, o que é a fibromialgia. Menos ainda são aqueles que a compreendem. Há pouca informação, poucos estudos divulgados, o que faz com esta doença (ou síndrome, se preferirem) seja tão menosprezada. E isso dá origem a reacções e comentários desrespeitosos e ignorantes por parte da sociedade. Por parte até daquelas pessoas que julgávamos amigas. E isso dói. A incompreensão dói. A não aceitação dói. Os comentários maldosos fazem doer. Tudo isto provoca dor na alma que, por sua vez, ainda aumenta mais a dor no corpo. E vou (vamos) vivendo assim, nesta dualidade de dores, tentando encontrar o equilíbrio nesta corda bamba, buscando forças em todos os cantinhos para não desistir.