segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Este corpo que grita


O meu corpo aprendeu a fazer uma série de coisas sozinho, sem o meu aval. Uma dessas coisas nada maravilhosas é gritar. Sim, o meu corpo aprendeu a gritar. Há dias em que não se cala um segundo que seja. Cada célula grita, num ritmo descompassado e frenético. É uma sucessão de gritos estridentes, em tons disformes. São gritos de dor, de uma dor que não consegue mais estar calada. São gritos de cansaço, gritos que ordenam a que eu me atire para o meio de chão e, também eu, comece a gritar. Há dias assim, em que a dor e o cansaço extremo fazem o meu corpo inteiro gritar. Gritar de desespero. Gritar de revolta. Gritar, tão somente, de cansaço. Há dias assim, em que o simples respirar dói e cansa. E o corpo grita e não se cala e quase me ensurdece e me leva à loucura. Há muito tempo que este meu corpo se tornou assim, desobediente, fazendo apenas aquilo que bem lhe apetece ou, neste caso, não fazendo aquilo que me apetece a mim. Por vezes, sinto que este meu corpo, que grita, deixou de ser meu. Entregou-se à dor, ao desespero, ao cansaço sem tréguas. Acho mesmo que o meu corpo deixou de ser meu. Descontrolou-se por esses caminhos sinuosos. Virou-me as costas. Zangou-se comigo. E a única maneira de me dizer tudo isso é gritando. E eu já não suporto mais ouvir estes gritos. Só queria dar-lhe sossego. Acalmar-lhe a dor. Devolver-lhe a força e a energia de outrora. Será que um dia vou conseguir? Será que, algum dia, o meu corpo irá fazer as pazes comigo e deixar de gritar e voltar a ser o que era? Tenho fé que, um dia, isso seja possível. Até lá, que Deus me ajude, que Deus nos ajude.

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