sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Como tudo começou


Tudo começou no início deste ano que agora termina. Dores nas costas. Muitas, horríveis, dores como nunca antes tinha sentido. Pensei que estivesse a ficar doente. Gripe. O inicio de uma pneumonia, talvez. Custava-me respirar. Ida ao médico, raio-x ao tórax, tudo normal. Mais umas semanas a sofrer. Noites sem dormir, não conseguia encontrar uma posição em que não tivesse dores. Começaram a doer-me também os braços. Comecei a sentir formigueiros e falta de força. Comecei a acordar sempre mais cansada do que aquilo que me deitava (isto quando conseguia dormir um par de horas). Nova ida ao médico. Outro raio-x, uma TAC à coluna. Presença de hérnia discal de tamanho pequeno, incompatível com as dores que eu sentia. Fisioterapia. Três meses de fisioterapia. Três meses de sofrimento atroz a cada sessão. De cada vez que me tocavam nas costas só me apetecia chorar e gritar, tal era o desespero e a dor. Três meses depois, as dores continuavam. Cada vez mais fortes. Cada vez mais incapacitantes. Chegava a chorar porque não me sentia bem, porque não sabia o que tinha, era um mal-estar tão grande, tão grande, que parecia que ia morrer a qualquer momento. A fadiga era cada vez maior. Comecei a ficar ansiosa. Crises de ansiedade. O que resultava em mais dores ainda. Nova ida ao médico. Análises a tudo e mais alguma coisa. A possibilidade de neoplasia foi colocada em cima da mesa. Tive medo, tanto medo. Resultado das análises normais. Decidi marcar consulta com a reumatologista que tem acompanhado a minha mãe (também fibromiálgica). Prescrição de mais análises. Resultados normais. Teste físico. 16 pontos dolorosos (são 18, ao todo). Depois da associação de todos os sintomas, depois do despiste de todas as doenças, depois do teste físico positivo, o diagnóstico era apenas um: fibromialgia. Aliado às dores e à fadiga, tenho síndrome do intestino irritado, diagnosticado há já dois anos. Na altura, tinha cólicas horríveis, todos os dias. Fiz um tratamento que atenuou a dor, mas continuo com cólicas fortes frequentemente. Chegamos à conclusão que esse foi o primeiro sintoma da doença.

Ainda é tudo muito recente. Confesso que ainda não caí bem em mim. De cada vez que penso que terei de viver com dores o resto dos meus dias, sejam eles muitos ou poucos, dá-me calafrios e vontade de fugir. Não sei como será a minha vida daqui para a frente. Não sei que limitações esta doença me trará num futuro próximo. Sinto-me ainda como que anestesiada. Nunca pensei vir a ter uma doença crónica, quanto mais uma doença crónica que me provocasse tanta dor. Dor física e, não menos importante, dor emocional. Dor na alma face à incompreensão dos outros. Dor na alma face a comentários maldosos do género: isso não é doença, é preguiça e mimo. Sei que será um caminho difícil este. Espero estar à altura deste desafio. Espero ter mais força do que esta maldita doença. E espero, de coração, poder ajudar outras pessoas na mesma situação. Porque acredito que, juntas, seremos mais fortes.

3 comentários:

  1. Olá Catarina,
    Tenho 39 anos e também me foi diagnosticada fibromialgia há alguns meses. Muita força! É uma doença com a qual temos que aprender a viver. Deixo-te aqui o meu testemunho: http://www.tomilho-limao.com/2015/12/01/diagnostico-fibromialgia/

    Beijos,
    Cristina

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  2. Obrigada por criares este espaço. Como já te disse, as minhas duas melhores amigas são fibromiálgicas. Aprenderei muitas coisas que tornarão possível compreender um mundo tantas vezes incompreendido.

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  3. Deve ser horrível viver em constante dor :(
    Espero que os tratamentos resultem e consigas ter o mínimo de dor possível.
    Força! :)

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